quarta-feira, 4 de março de 2009

Capitão América, de John Ney Rieber e John Cassaday

Porque conhecer?
Ok, é um blog de propaganda.
Ok, é um gibi, coisa que muita gente ainda torce o nariz (dada a qualidade da grande maioria deles, com razão) e ok, tem um personagem que para muitos é quase que o símbolo absoluto do imperialismo americano.
Então porque raios esta sugestão de leitura está aqui? Por ter uma coisa que falta em muitos profissionais da publicidade: defender um ponto de vista diferenciado quando todo o mercado caminha em outra direção.


(a propósito, caso não saiba ainda, clique na imagem para ver ampliada, pois o tamanho não está ajudando muito)

O contexto: esta nova série com o personagem foi lançada cerca de 5 ou 6 meses depois dos atentados de 11 de setembro, e em vez de uma história de revanchismo contra-terrorista à lá 24 Horas, o roteiro mostrava o personagem salvando descendentes árabes de linchamentos executados em solo americano, questionando se o próprio ódio inimigo, às vezes não é justificado e frisando uma mensagem bem clara: não existem nações inimigas, o que existe são indivíduos e não é justo um país inteiro responder por eles.
Creio que nem preciso dizer que apesar da sensatez, a série não agradou nada em um país ainda em luto e clamando por sangue.



O ponto alto de tensão entre a equipe criativa e o editor (traduzindo para publicitês: redator e diretor de arte versus atendimento) foi em um arco de história onde o Capitão América vagaria pelo mundo, olhando os estragos causados pela guerra e chegaria a Berlim, onde iria se lembrar de seus dias na Segunda Guerra e a devastação causada na cidade e na população pelos próprios aliados, mostrando que na guerra os dois lados sempre sofrem as consequências (sem trema porque ela caiu).
A história não foi sequer publicada e o roteirista foi “convidado” a se retirar do título (não, até onde eu sei ele não está preso em Guantánamo).



Porque ler? Mais do que pela história (que sinceramente nem é lá tão boa assim), pela integridade e ousadia de um comic book que clamava por paz e reflexão em um momento que toda a indústria de entretenimento, se não apoiava, se calava.
Um pequeno oásis de sanidade em 22 páginas, dentro de um tempo de loucura.



E se isso não for suficiente, bem, pelo menos para passear os olhos pelos belos desenhos de John Cassaday, então. Independente de sua posição política, isso sim é indiscutível.

Fábio Ochôa

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